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Bar e Mercearia Freitas- coxinhas de bueno de andrada, sao paulo brazil

Bar e Mercearia Freitas
Há mais de 60 anos na família Freitas comercializando produtos na cidade de Bueno de Andrada-SP. Após o armazenamento de secos e molhados, uma família abandonou a mercadoria com mercearia e passou a trabalhar com todos os produtos para o dia, ou a garantia de tudo o que os moradores e viajantes precisaram.
Após a construção da estrada que liga Bueno de Andrada-SP a Araraquara-SP, o casal Sônia e Paulo Freitas viu a necessidade de um produto diferenciado que atrai e fideliza-se ainda mais os clientes.
Uma coxinha por ser um produto de origem brasileira, consultada em bares, botecos e mercadinhos de todo o país, foi escolhida para ser comercializada.

 

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  A Crônica
 

 

Imagens de uma manhã de domingo. Nas proximidades do cemitério dos Britos, em Araraquara, um homem cavalga, garbidamente, um tordilho. Atrás dele, veloz, vem um menino de bicicleta. O menino ri e segura na cauda do cavalo que galopa, indiferente, puxando seu reboque. Logo depois, estamos na estrada vicinal que conduz a Bueno de Andrada (é Andrada mesmo). Os trilhos da antiga Estrada de Ferro Araraquara (EFA, depois Fepasa, hoje Ferroban, amanhã ninguém sabe) passam por um aterro. De pé, junto a trilhos, uma morena de cabelos longos, blusa lilás brilhando ao sol, penteado de cabelos. Sorri olhando o céu, talvez esteja feliz. A escova desce lenta e sensualmente pelos cabelos. Abaixo, um carro com as portas abertas.Por que ela veio pentear os cabelos em cima do aterro? Quem é? Ler esta crítica, saber que é ela? Doces mistérios dominicais. Uma estradinha que conduz um Bueno atravessa uma região de um verde intenso, variado. Pastagens em tom pastel, capas de mato verde escuro, pequenos canaviais, árvores isoladas, uma colina. Penso na mania que temos para dizer: “Ah, preciso ir para a Toscana, a Toscana é linda.” Lindíssima, concordo. No entanto, aquele trecho que conduz um Bueno e Silvânia não fica devendo. Foram 15 minutos de deslumbramento. O tempo parado. Aqueles momentos que penetram e trazem paz. Ou seriamente ou reencontrar uma raiz?O belo está tão perto, ao alcance da vista, basta sair de casa. Bueno de Andrada é uma pequena vila, três ou quatro ruas, silenciosa, limpa. Uma igreja resplandecente, verde ou sino dourado polido. Criança, eu vinha até aqui uma vez por mês para ajudar a Missa. Havia um pessoal que tomava conta da igreja, mãe e filha, uma era da filha ser líssima. Esqueci o nome. Onde esta rá? Quem era? Ainda mora em uma dessas casas? Debaixo de uma árvore, quase defronte da estação ferroviária restaurada e transformada em subprefeitura, uma árvore copada. A Ferroban, há dias, quase destruiu parte da estação, um patrimônio. Vai consertar? Na manhã de domingo, um grupo de homens toca truco.Um e outro carro passa em direção a Silvânia. Dali para frente à estrada é de terra. Enlameada pelas luvas, os motoristas cuidam para não sair do trilho, preocupados com o "facão" que pode comer o veículo por baixo. Brasil que ainda existe. Bucólico, calmo, ou relógio inexistente. Brasil que pensa estar perdido e está lá, preservado. Uma venda. Bar e Mercearia do Freitas. Solitária. Homens tomando cerveja na manhã de domingo. O garoto compra uma garrafa de pinga: “Marca aí pro pai. Uma senhora anota num pedaço de papel cheio de outras contas. Nem é caderneta. É papel de pão. Confiança dos dois, faça freguês e dono.Brasil que pensávamos desaparecido. Há poesia, não nostalgia.
Numa estufa, coxinhas douradas. Nunca tive medo de comida de bar. Claro, nunca experimente ovo empanado ou asas de frango gorduroso. A coxinha me atraía. "Quem faz?" A senhora respondeu, orgulhosa: “Eu.” Pedi uma, era saborosa, massa de batata, crocante, recheio generoso, frango desfiado em quantidade, bem temperado. Letícia, minha sobrinha, comeu duas, considerou almoçada. Cervejas eram abertas, desapareciam nas gargantas. Manhã quente. Pedimos uma cerveja branca e uma preta. Geladas, perfeitas. Ah, não tinha Níger, nossa Guinness.Não sei o que acontece com a distribuição dessa cerveja. Difícil de encontrar. Raridade. Uma tarde, fui com o escritor Deonísio da Silva em Ribeirão Preto ver AFE x Botafogo. Foi tudo o que ele descobriu no Níger, ficou fã, mas se recuperou do mesmo: “Nunca tem em São Carlos.” Em torno de nós, uma mercearia de Freitas, pequena, limpa, nenhum resquício de pó, chão de vermelhão. Nossas cozinhas na infância eram de vermelhão. Foi coisa de pobre, hoje é tendência de decoração. Está nas revistas chiques, na Casa Vogue. No Freitas, há cadernos escolares, panelas, tênis, bebidas, tudo um pouco. Minimercado. Uma venda daquelas antigas, centro de abastecimento, ponto de encontro.Brasil que ainda existe, se conservado. Atualizado e, felizmente, antigo. Meu tio José, com 75 anos, ex-ferroviário, lembra-se, quando substitui o chefe da estação em Bueno, e entra na Freitas. Portanto, a vezzo, dica, dou a minha. Na manhã de domingo, fuja para Bueno de Andrada, peças todas como coxinhas da estufa, abra cervejas, geladas perfeitamente, sente-se sob uma árvore, deixe o tempo passar, sem tevê, sem Gugu, sem Xuxa insípida, sem futebol de trabalho. Já pensou em não fazer nada, nada mesmo? Ah, bom para gente estressada. Ou, como diz aquela parente, expressa. Mistura de estresse e pressão. Ela tem razão.

 

 

marcelo brizolari
Bueno de Andrada, Araraquara - SP, Brasil