03-06-2020 08:35 PM
A Crônica
Imagens de uma manhã de domingo. Nas proximidades do cemitério dos Britos, em Araraquara, um homem cavalga, garbidamente, um tordilho. Atrás dele, veloz, vem um menino de bicicleta. O menino ri e segura na cauda do cavalo que galopa, indiferente, puxando seu reboque. Logo depois, estamos na estrada vicinal que conduz a Bueno de Andrada (é Andrada mesmo). Os trilhos da antiga Estrada de Ferro Araraquara (EFA, depois Fepasa, hoje Ferroban, amanhã ninguém sabe) passam por um aterro. De pé, junto a trilhos, uma morena de cabelos longos, blusa lilás brilhando ao sol, penteado de cabelos. Sorri olhando o céu, talvez esteja feliz. A escova desce lenta e sensualmente pelos cabelos. Abaixo, um carro com as portas abertas.Por que ela veio pentear os cabelos em cima do aterro? Quem é? Ler esta crítica, saber que é ela? Doces mistérios dominicais. Uma estradinha que conduz um Bueno atravessa uma região de um verde intenso, variado. Pastagens em tom pastel, capas de mato verde escuro, pequenos canaviais, árvores isoladas, uma colina. Penso na mania que temos para dizer: “Ah, preciso ir para a Toscana, a Toscana é linda.” Lindíssima, concordo. No entanto, aquele trecho que conduz um Bueno e Silvânia não fica devendo. Foram 15 minutos de deslumbramento. O tempo parado. Aqueles momentos que penetram e trazem paz. Ou seriamente ou reencontrar uma raiz?O belo está tão perto, ao alcance da vista, basta sair de casa. Bueno de Andrada é uma pequena vila, três ou quatro ruas, silenciosa, limpa. Uma igreja resplandecente, verde ou sino dourado polido. Criança, eu vinha até aqui uma vez por mês para ajudar a Missa. Havia um pessoal que tomava conta da igreja, mãe e filha, uma era da filha ser líssima. Esqueci o nome. Onde esta rá? Quem era? Ainda mora em uma dessas casas? Debaixo de uma árvore, quase defronte da estação ferroviária restaurada e transformada em subprefeitura, uma árvore copada. A Ferroban, há dias, quase destruiu parte da estação, um patrimônio. Vai consertar? Na manhã de domingo, um grupo de homens toca truco.Um e outro carro passa em direção a Silvânia. Dali para frente à estrada é de terra. Enlameada pelas luvas, os motoristas cuidam para não sair do trilho, preocupados com o "facão" que pode comer o veículo por baixo. Brasil que ainda existe. Bucólico, calmo, ou relógio inexistente. Brasil que pensa estar perdido e está lá, preservado. Uma venda. Bar e Mercearia do Freitas. Solitária. Homens tomando cerveja na manhã de domingo. O garoto compra uma garrafa de pinga: “Marca aí pro pai. Uma senhora anota num pedaço de papel cheio de outras contas. Nem é caderneta. É papel de pão. Confiança dos dois, faça freguês e dono.Brasil que pensávamos desaparecido. Há poesia, não nostalgia.